As vidas que o Projeto Eurobairro Underground da PASEC mudou – Reportagem e testemunhos
Agora que entramos no quinto ano do Projeto Eurobairro Underground, que envolvemos mais de 700 crianças e jovens diferentes, que terminamos, ano após ano, com indicadores quantitativos e qualitativos cada vez melhores, importa ouvir algumas das vidas que o projeto mudou a continua a mudar. Ficam aqui os testemunhos na primeira pessoa da Angélica Oliveira (19 anos), do Elias Vicente (13 anos) e da Sabrina Monteiro 12 anos.
Angélica Oliveira, de participante a Dinamizadora Comunitária
Angélica Oliveira, 19 anos (Dinamizadora Comunitária do projeto Eurobairro Underground 2019-2020)
Tudo começou em 2016 quando o Eurobairro nasceu na 6ª Geração do Programa Escolhas e quando me tornei participante do projeto. Tinha apenas 16 anos e vivia o dia-a-dia do projeto com toda a intensidade. Depois da escola tornou-se rotina ir para as atividades da “Salinha” ajudar os mais novos nas atividades. Aprendi a fazer teatro e frequentava o Centro de Inclusão Digital para aprender competências ao nível das TIC onde consegui concluir alguns cursos que, agora vejo, que enriqueceram o meu currículo. Para além disso, tinha um grupo de jovens (Oficina de Meditação) onde refletia sobre mim e ouvia os outros a refletir também.
De mera participante, a Equipa Técnica do projeto foi-me dando, aos poucos, cada vez mais protagonismo até que me tornei Tutora de Pares. Nessa altura era vista como uma facilitadora e mediadora do projeto, isto é, fazia a ponte entre os técnicos e os participantes.
Comecei a ganhar cada vez mais voz dentro das atividades que participava. Os técnicos depositavam em mim cada vez mais confiança, deixavam-me fazer a minhas experiências, deixavam-me criar os meus próprios jogos, e cheguei mesmo a escrever peças de teatro.
Os restantes participantes já me viam como parte do processo. A partir daí alistei-me na Bolsa de Voluntários do Eurobairro onde definíamos o nosso papel de Tutores Multiplicadores no projeto e os pequenos projetos que podíamos desenvolver. As grandes atividades foram as que me marcaram mais, como a Feira de Jogos Intercultural e os Tempos de Aventura – Campo Escola durante o Verão, onde os Voluntários e Tutores tem um papel muito ativo e intenso na dinamização das atividades.
A 6ª Geração do Programa Escolhas terminou e o projeto entrou numa 7ª geração e aí a minha vida mudou completamente. A PASEC convidou-me para pertencer à Equipa Técnica do Eurobairro como Dinamizadora Comunitária. Agora, podia fazer pelos outros participantes tudo aquilo que os técnicos do Eurobairro Underground fizeram comigo. Ajudaram-me a crescer como cidadã, a tornar-me uma pessoa melhor ao nível dos valores e princípios.
Entretanto terminei o Curso Profissional de Técnico da Juventude e fui a primeira Técnica de Juventude Nível 4 do país a ser empregada. Tenho a noção que tudo o que aprendi como participante e como Tutora/Voluntária foi fundamental para conseguir concluir o curso com sucesso.
Hoje o meu dia-a-dia são as crianças e jovens dos Complexos de Habitação Social de Famalicão, a promoção do seu bem-estar, do seu sucesso educativo e a promoção da Educação para a Cidadania Global.
Elias Vicente: “Aprendemos muito e ao mesmo tempo ensinamos aos outros algo que sabemos…”
Elias Vicente, 13 anos
É bom participar nas atividades do Eurobairro no Complexo Habitacional da Cal em Famalicão. Nestas atividades aprendemos muito e ao mesmo tempo ensinamos aos outros algo que sabemos, por muito pouco que seja.
Desde que comecei a participar nas atividades do Projeto Eurobairro a minha maneira de falar e de estar com os outros mudou e melhorei os meus resultados escolares. Isto aconteceu muito devido ao apoio ao estudo e aos jogos que os técnicos fazem connosco.
Fazer parte do Grupo de Percussão levou-me a desenvolver novas formas de estar com os outros e ajudou-me a desenvolver a minha criatividade na criação de ritmos para novas músicas que praticamos durante os ensaios. Mas a melhor parte são mesmo os espetáculos onde tocamos para toda gente e sentimos que as pessoas gostam de nos ouvir. Já fazia parte de um grupo de percussão antes do projeto Eurobairro, no entanto, durante o projeto tivemos mais oportunidades de tocar para novos públicos e de interagir com outros grupos de outros projetos.
Participar nas Assembleias de Jovens é muito importante, pois ajuda-nos a perceber o que podemos melhorar, o que está a funcionar menos bem, a falar dos problemas na nossa zona de habitação e dar ideias para as atividades do projeto.
Mas o que gosto mais é de fazer parte de uma equipa da Academia de Desportos de Rua e Natureza e de participar nos torneios de futebol, como por exemplo os campeonatos inter-bairros onde jogamos uns bairros contra os outros, ou outros torneios/intercâmbio com outras equipas de outras cidades.
A Eurobairro Cup/Mundialito.com foi um torneio muito especial por ter sido nas Lameiras onde treinamos todas as semanas. Nesta equipa aprendi a estar e a pensar em grupo, a saber perder, e melhorei as minhas capacidades físicas e técnicas.
Por fim, as atividades dos Tempos de Aventura – Campo Escola Eurobairro no Verão, quando a escola acaba, são altamente, pois algumas das atividades são diferentes das que realizámos durante o resto do ano.
Sendo assim, penso que ser um participante neste projeto, mudou muito os meus comportamentos, a minha maneira de ser com os meus amigos, familiares, professores, entre outros. Sou feliz, com a minha tropa do Bairro 31 nas atividades do Eurobairro.
Sabrina Monteiro: “Quero ser professora…”
Sabrina Monteiro, 12 Anos
Faço parte do Eurobairro desde que o projeto começou, em 2016. No início só participava nas atividades que mais gostava, como por exemplo, a atividade de dança. Ao longo do tempo comecei a interagir mais com as técnicas, as quais me incentivaram a participar nas outras atividades e, foi a partir desse momento, que notei uma evolução a nível pessoal. Comecei a ter noção da importância que é estar em grupo e as regras que dele fazem parte. Além disso, aprendi a conhecer-me melhor, a mim e aos outros. Foi interessante descobrir que tinha alguns talentos escondidos como o de representar, por exemplo.
O que me faz gostar tanto deste projeto é o facto de nos serem dadas oportunidades de acesso e sucesso em várias dimensões, áreas e atividades como o desporto, as diferentes visitas a novas cidades, no apoio ao estudo e a ida e participação em espetáculos com pessoas de outros bairros e de outros grupos. Isso é muito positivo, porque passava os meus dias a brincar sozinha no bairro, não tinha ninguém que me acompanhasse e desafiasse a ser melhor e explorar os meus talentos, como é o caso da dança.
Ao longo destes anos de projeto acho que evolui bastante, melhorei muito a nível de comunicação. Antes eu não sabia expressar as minhas ideias e, ao longo do tempo, apreendi a ter calma, a falar pausadamente para que me pudessem compreender. Outra dificuldade que tenho e continuo a superar é no relacionamento com os outros, pois tinha receio de estar com outras pessoas, era mais tímida e achava sempre que eram melhores do que eu e ficava sempre no meu canto. Porém, apesar dos conselhos dados pelas técnicas, ainda tenho algumas dificuldades a esse nível, ainda que não sejam tantas, pois sempre me reforçaram a ideia de que ninguém é mais do que ninguém e que também tenho valor.
O facto das técnicas nos atribuírem responsabilidades também é muito importante e fazem-me sentir capaz. Por exemplo, na dança tenho o papel de coordenar, relembrar o dia dos ensaios às minhas colegas e pensar em formas alternativas de ensinar as coreografias às meninas mais novas. Para além disso, na atividade de apoio ao estudo, após terminar os meus trabalhos de casa, tenho a responsabilidade de ajudar os meus amigos, o que me despertou um outro gosto escondido e, a partir dele, poder sonhar com uma futura profissão que é ser professora.